quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Rabo Está Abanando o Cachorro!



José foi assaltado. Levaram o carro dele. Ao chegar em casa de táxi, ele imediatamente assumiu a culpa pelo roubo:

-"eu dei bobeira, não deveria ter parado naquele semáforo"


Maria foi estuprada e quase morreu. Ao prestar depoimento, ela deixou clara sua responsabilidade pelo episódio:

-"eu vacilei, não deveria ter ido comprar pão sozinha"


Um ladrão arrancou o telefone celular das mãos de João enquanto atendia uma ligação. Ele - o João e não o ladrão - assumiu total culpa pelo crime:

-"eu não sei onde estava com a cabeça quando fui atender uma ligação no meio da rua"


Maria foi morta durante um assalto. Ela gritou e acabou levando um tiro. Por ocasião do seu enterro, Maria foi condenada por todos os parentes:

-"que estupidez dela ter gritado, todo mundo sabe que durante um assalto o melhor é ficar em silêncio"


Mário, um dedicado Policial Militar, foi morto a tiros por traficantes do morro no qual morava. Seus familiares, entrevistados por um jornalista, o recriminaram duramente:

-"ele sempre foi cabeça-dura, nunca quis esconder a farda quando voltava pra casa"


No mesmo morro, Paulo, um líder comunitário, foi esfaqueado até a morte pelos mesmos traficantes. Seus amigos o criticaram ferozmente:

-"que falta de juízo, procurar a Polícia para denunciar que o crime estava dominando o morro"


Marcos teve sua loja assaltada e quase levou um tiro. Seus empregados reclamaram dele:

-"que estupidez deixar aquele monte de mercadoria exposta na vitrine"


Marcos passou a deixar tudo trancado em um cofre, mas a loja foi assaltada de novo, e um de seus funcionários, após quase levar um tiro por ter demorado a abrir o cofre, agrediu-o violentamente:

-"seu miserável, fica trancando tudo, mais preocupado com as mercadorias do que com a gente e quase levamos um tiro por sua causa"


Carlos estava jantando com sua namorada em um movimentado restaurante quando uma quadrilha armada saqueou todos os clientes Seu futuro sobro não gostou:

-"este rapaz é um irresponsável! ele sabe muito bem que não estamos em época de ficar bestando por aí, jantando fora, e acabou passando por um assalto e traumatizando minha filha"


Joel entrou em um subúrbio com o caminhão da empresa para entregar pacotes de biscoito nos bares de lá. Após ter tido os produtos e o caminhão roubados e quase ter sido morto, foi despedido por seu chefe:

-"que sujeito burro, ir com o caminhão lá naquele bairro sem pedir licença para o líder do tráfico local"


Patrícia viajou a negócios. Desembarcou no aeroporto com seu "notebook" e tomou um táxi. Não conseguiu andar dois quarteirões! foi assaltada em um semáforo. Na empresa, foi imediatamente repreendida:

-"você não poderia ter desembarcado sem antes esconder o "notebook", deste jeito você pediu pra ser assaltada"


E é assim, de exemplo em exemplo, todos já parte do nosso cotidiano, que vamos chegando a uma verdadeira "rotina do absurdo".

Aqui no Brasil
é tão normal um cidadão ter medo de andar pelas ruas,
é tão comum um policial ter que esconder sua profissão para não morrer,
é tão usual pessoas terem que pedir permissão a traficantes para subir em morros e
é tão rotineiro abrir-se mão da cidadania mais básica,
que já não causa surpresa as vítimas estarem se transformando em culpadas pelos crimes.

Diante desta tenebrosa realidade, patrocinada pela fraqueza e falta de firmeza das nossas instituições,
talvez já não nos cause surpresa ver um rabo abanando um cachorro!

BRASIL!
até quando vamos aturar isso?

(encaminhado por minha amiga Aderlene Ferreira - 01ABR2014)